Viajando e aprendendo

15 Comentários 22.dez, 2013, 12:50

Um dos objetivos da nossa viagem era fazer uma investigação sobre a felicidade. Queríamos pesquisar o significado da felicidade para as diferentes culturas que conheceríamos e mais, descobrir qual era a nossa mais pura fonte de felicidade.

40 dias depois de iniciarmos a volta ao redor do mundo, pesquisar a felicidade perdeu um pouco o sentido. Pra começar que nesse curto tempo tantas “fichas caíram” que me sinto satisfeita a respeito do assunto, afinal eu sei o que ME faz feliz! Na verdade todos nós sabemos e o problema é o pouco tempo que dedicamos das nossas vidas refletindo a respeito e promovendo mudanças para sermos mais felizes. Compartilho abaixo meu raciocínio. Vocês podem achar tudo muito óbvio ou achar que não faz sentido.

- Felicidade é algo que você está ou não está, não algo que você é ou não é, então perseguir “ser feliz” pode te levar para um labirinto sem saída;

- Nós temos momentos de felicidades que podem durar segundos, minutos ou até dias. Meses eu duvido, porque naturalmente eventos do cotidiano vão te tirar desse estado de espírito e pelo menos por algumas horas ela será interrompida;

- O grande lance é descobrirmos o que nos faz feliz e é aí que a porca torce o rabo! Não sei porque eu achava que existiam razões regionalizadas sobre o que traz felicidade. Achei que no Havaí encontraria motivos diferentes do Japão e assim por diante, mas meu insight foi que as razões são completamente individualizadas! Explico mais abaixo.

- Cada pessoa carrega consigo uma lista de coisas, acontecimentos, motivos, atividades, etc que a fazem feliz. O que forma esse grupo de, vamos chamar assim, causadores de felicidade são suas experiências, criação, influências, gostos e sei lá, de repente até DNA;

- O problema é que com o pouco tempo que dedicamos a esse exercício de reflexão (que eu só fiz por conta da minha condição atual), acabamos focando em causadores superficiais e deixamos engavetados nossos sonhos e desejos mais legítimos. A gente simplesmente coloca a vida no piloto automático: trabalho que pague bem, faculdade de renome, viajar 1 vez por ano, casar, ter filhos, pós graduação, carro bom. Pronto! Sou feliz! Sei…

- Evoluindo: A sacada da felicidade poderia ser transformada em um cálculo matemátimo acredito eu: imaginem uma lista séria e real de TUDO que te faz feliz, mas tem que parar mesmo pra pensar e resgatar os projetos mais empoeirados possíveis. Agora anote diariamente quantos dos itens você faz (recebe, aplica, persegue etc) diariamente. Quanto maior for a quantidade de acontecimentos dos causadores de felicidade, mais feliz é a pessoa. Meio óbvio, não disse? E aí no cálculo eu incluiria o fator infelicidade também, afinal não adianta você passar o dia fazendo zilhões de coisas que te fazem feliz se ao mesmo tempo tem zilhões de coisas vezes 10 que te fazem infeliz. Então a equação seria: quantidade de causadores da felicidade por dia menos quantidade de causadores de infelicidade. Se você ficar negativo tem que repensar sua vida. E pra ficar mais preciso teríamos que dar pesos diferentes aos itens, por exemplo, pra mim churrasco com a família tem peso 10, receber um bom dia inesperado de um estranho peso 9, comer meu prato de comida predileto peso 2;

- Entendido como eu faço para estruturar minha vida de tal maneira que eu seja mais feliz, só preciso então fazer minha lista de causadores e confesso que meu cérebro rapidamente criou mentalmente uma planilha de excel com duas colunas, A feliz, B infeliz e foi preenchendo até cansar;

- Confesso que pra mim mais difícil que fazer coisas que me fazem feliz é eliminar os causadores de infelicidade. Por exemplo, a violência de São Paulo está no topo da minha lista de infelicidade, só que resolver esse problema significa perder o causador número 1 da lista de felicidade que é estar com minha família. Perceberam que o exercício é longo? E requer muita reflexão seguida de ações efetivas;

E foi nesse ponto que eu entendi que mais importante do que pesquisar os causadores de felicidade alheia é eu fechar a minha equação. São só 7 meses, pouco tempo para me aprofundar no universo de milhares de pessoas. Sinceramente acho pouco tempo pra mergulhar no meu universo que já é tão complexo!

Mas tive que tomar uma decisão e escolhi mergulhar em mim. O tema “entender a felicidade” deu lugar a “buscar auto conhecimento”. Pra vocês não muda em nada, vou continuar compartilhando nossas experiências e insights como este aqui. Pra mim foi o primeiro grande aprendizado da viagem. Que oportunidade maravilhosa que tenho em mãos de me conhecer verdadeiramente, de refletir, olhar pra minha essência e (tenho fé) trabalhar os meus defeitos, insatisfações e angústias.

E essa ficha, esse insight aconteceu na madrugada de terça para quarta-feira da semana retrasada. Acordei assustada, cheia de pensamentos que fugiam ao meu controle e uma cena não saía da minha cabeça. Antes de visitarmos o Memorial da Paz de Hiroshima (ou Memorial da Bomba, mas os japoneses são tão evoluídos que preferiram usar o termo paz), fizemos diversas pesquisas sobre o evento e assistimos um documentário da National Geographic de meia hora que mostrou uma entrevista com um sobrevivente da bomba. Quando a bomba destruiu a cidade ele tinha 8 anos de idade e toda a sua família morreu. E na entrevista ele disse, ao ser questionado sobre seu sentimento em relação aos responsáveis pela bomba: “Minha maior vingança é o perdão, eu perdôo eles”. Eu não conseguia parar de pensar nisso, como meu deus essa alma pode ser tão evoluída. EU não consigo perdoar os norte americanos depois de ver com detalhes os resultados do “vamos acabar com essa guerra destruindo uma cidade”! Como ELE perdoa? E fiquei horas pensando no perdão, em como eu tenho dificuldades em perdoar. Desde pequena sou assim, do tipo rancorosa, que se magoa com facilidade, fica chateada e demora pra virar a página e seguir em frente. Remôo todas as dores possíveis. Sei que sou assim e, apesar de ter feito tanta terapia, nunca investi 1 segundo do meu tempo pra tentar mudar esse aspecto que agora durante a viagem consegui admitir.

Bom, o que tudo isso tem a ver? Na minha listinha dos causadores de infelicidade, não saber perdoar foi parar no top 3. O universo já me mandou o primeiro sinal e eu sigo pensando naquele senhor, com mais de 60 anos, um pouco deformado, com o maior sorriso no rosto contando cheio de satisfação que perdoava quem havia destruído sua cidade, família e vida.

Não tem oportunidade melhor para eu começar a equalizar a minha planilha. E a viagem ganhou uma nova conotação pra mim, um novo desafio até eu diria! Foco no auto conhecimento! Quero crescer, evoluir e melhorar para ser mais feliz e também para proporcionar mais felicidade para quem está próximo de mim.

E quanto a vocês, quem chegar até o final desse texto, gostaria de dizer que nós não sabemos o quanto vivemos no automático até desligarmos nossa máquina. Não dá tempo de ficar filosofando, refletindo ou fazendo listinhas de feliz x infeliz, eu sei que não dá tempo. É trânsito, trabalho, estresse, filhos, médicos, família, amigos, mais trânsito, escola, cursos e a gente liga o piloto automático e vai embora. Entendo do fundo do coração, mas podemos nos beneficiar tanto a partir da reflexão sobre a nossa felicidade.

Olha, me sinto privilegiada de poder fazer essa pausa na vida e na mesma proporção me sinto na obrigação de tentar dividir com vocês meus aprendizados. Então finalizo com um convite: que tal fazer uma listinha hoje? Aproveitem o encerramento do ano para se conhecerem um pouco mais, admitirem o que os fazem felizes – e direcionar suas vidas para esse caminho!

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Sobre o Autor

 Mari Stori

Mari Stori

Mariana Stori é formada em Comunicação Social, área em que atuou durante mais de 12 anos. Atualmente está em um período sabático, junto de seu marido, realizando uma viagem de volta ao redor do mundo.

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15 Comentários

  1. Aradia 28. janeiro, 2014, 0:07

    Caramba Mariana! Esse texto foi profundo, além de um tema unânime, quem te conhece sabe a questão do perdão e você que sabe o que passei com meu pai e a mulher dele, fico pensando…. o perdão, na minha opinião, pode ser libertador e isso me faria mais feliz, livre do que me faz mal…
    Saudades!!

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  2. Letícia Silva 16. janeiro, 2014, 20:47

    Seria tão bom que mais pessoas multiplicassem bons pensamentos, como você!!
    Obrigada por me proporcionar um momento de felicidade, lendo esse texto!
    E que tenhamos a sabedoria de assumir nossas falhas e tentar melhor de algum forma, com o exemplo dos outros, com a beleza do que vemos e com as lições que aprendemos!
    Abraços!!!

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  3. Nati 08. janeiro, 2014, 12:05

    Mari, só tive como ler esse post hoje! E ai, fiquei emocionada :õ) Lágrimas nos olhos de verdade. Emoção de alegria…coisas assim me fazem feliz.
    Fico feliz também de saber (pelo menos um pouco) de como vc está se sentindo e crescendo (mais ainda) com tudo isso que está acontecendo na volta ao Mundo. Concordo plenamente qdo vc diz que felicidade não é algo para ser, e sim para estar! Estar consciente disso pode levar a gente a viver uma vida com menos frustrações, entendendo e CURTINDO o que realmente nos faz feliz. Né? Você realmente é uma pessoa privilegiada por poder parar e perceber tudo isso de um “mundo menos louco”. E também, muito iluminada por dividir tudo isso com a gente. Obrigada!
    Beijo grande

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  4. Joana Barros 03. janeiro, 2014, 10:36

    Mari, que texto mais lindo!!
    Fico feliz de saber que tudo que se propôs a viver, está te trazendo tanta bagagem boa!!
    :)
    Você merece!!!

    Saudades!
    beijos

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  5. Vanessa Rezende 27. dezembro, 2013, 17:05

    Mari, que lindo!!! Me emocionei com seu relato, com sua “busca”, enfim, com toda história. Parabéns!!! E continue dividindo conosco esse momento tão bacana e marcante da sua vida! =)

    Beijão

    Vanessa

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  6. Lígia 23. dezembro, 2013, 9:40

    Que momento lindo esse seu, de encontrar-se com tantas pessoas dentro de você mesma!
    Tenho vivido algumas reflexões assim… a proximidade dos 40 anos, a pausa da vida profissional… e tenho sentido uma sensação muito boa de “é isso”. E a vida vai seguindo, muito mais calma, mais devagar que antes. E com mais horas e dias de felicidade! Um beijo, um ótimo final de ano pra vocês aí do outro lado do mundo!

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  7. Puccini 23. dezembro, 2013, 9:18

    Disse tudo! Acredito que muitas vezes assumimos sermos infelizes por querermos assumir a responsabilidade de fazer outras pessoas felizes. Engolimos muito sapo na vida profissional e pessoal! Realmente ler este texto me fez pensar muito! Valeu

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    • Mari Stori AUTOR 25. dezembro, 2013, 0:16

      Puccini eu e o Demetrios ficamos muito felizes de saber que você está nos acompanhando! E seu comentário é muito pertinente… quantas vezes acabamos deixando a nossa própria felicidade em segundo plano e priorizamos a felicidade do outro. Acho que isso é mais comum ainda depois que temos filhos, não? Por que aí eles se tornam prioridade e somos capazes de sacrificar qualquer coisa (inclusive nossa felicidade) em nome deles. Mas isso é nobre! Vamos refletindo por aqui também… Feliz Natal pra você e toda sua família! Mari e Dimi

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  8. Marilena 23. dezembro, 2013, 8:14

    Um momento de felicidade para mim é ler esse texto, ter consciência a ponto de entender o sentimento de outro ser humano( o senhor de Hiroshima) que é o oposto do seu em relação ao ocorrido, por mais perturbador , acho eu é um momento de felicidade, porque a mágoa e a dissídia nos traz muito sofrimento, ver o que o outro supera nos faz capaz de tentar e conseguir, para isso sempre é necessário o momento oportuno, na confusão do dia a dia como você mesmo disse as vezes não conseguimos ter essa clareza.Estou muito muito feliz pelo seu momento, a paz que a compreensão, mas aquela compreensão que vem lá da nossa alma, é com certeza o desfrute da felicidade.Bjs

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    • Mari Stori AUTOR 25. dezembro, 2013, 0:12

      Obrigada Tia. Você está certa, talvez o perdão (assim como outros sentimentos) seja uma questão de prática e conhecer histórias de perdão com certeza ajuda a plantar a semente no meu coração. Isso vale para tudo né? Bjs

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