Yangshuo, um tesouro na China

* Fotos por Demetrios Kolovos

Depois dos longos 15 dias no sabático do sabático em Beijing, seguimos nossa viagem para Yangshuo, no sul da China – e não tinha destino mais apropriado para nos desintoxicar da poluição sonora, visual e literal da capital.

Yangshuo é uma cidadezinha considerada das mais belas da China por onde passa o Rio Li, inclusive uma de suas paisagens ilustra as notas de 20 Yuans. A cidade não possui aeroporto, então o jeito mais fácil de chegar é descendo na vizinha Guilin, ou encarar um trem. Em nossas pesquisas notamos que a maiora das pessoas ficam alguns dias em Guilin e depois migram para Yangshuo. Preferimos ficar em apenas um local para não perdermos tempo com traslados, montagem e desmontagem de malas e achamos que foi uma boa escolha, pois nas 2 horas que percorremos de carro o trecho Guilin – Yangshuo vimos exatamente a mesma paisagem (abençoada, por sinal).

River Li Retreat, “Retiro do Rio Li” era o nome do nosso hotel e compreendemos bem o significado quando chegamos. Literalmente um retiro! Apesar de ficar 20 minutos a pé do centro da cidade, o caminho até lá era uma motivação. Concordam?

A escolha desse hotel acabou nos proporcionando uma experiência diferente, pois o simples fato de tomar café de frente para o Rio Li e suas montanhas vizinhas já era uma experiência. Apenas como curiosidade, em países menos desenvolvidos conseguimos ficar em bons hotéis por conta dos preços mais acessíveis.

Durante os 5 dias que passamos em Yangshuo tínhamos uma rotina deliciosa que consistia em tomarmos café da manhã na varanda e jantarmos no restaurante do próprio hotel, que além de ter comidinhas super delícia, tinha um preço honesto. Tiramos 2 dias para passear pelo centro da cidade, 2 dias para trabalhar em nossas produções de fotos e textos e 1 dia para fazermos o passeio que nos trouxe até aqui.

Centrinho – um mix de Búzios e Campos

Eu ouso comparar o centro de Yangshuo com Búzios no Rio de Janeiro ou Campos do Jordão em São Paulo. Calma gente! A analogia é para vocês entenderem que as ruas de Yangshuo são famosas pelo charme, lojinhas e restaurantes por todas as partes. Passamos 2 dias inteiros batendo perna, tirando fotos e curtindo o clima.

Algumas cenas não nos deixavam esquecer que estávamos na China, como por exemplo as carnes que eles colocam para secar a céu aberto. Tinha de tudo: pato, galinha, rato… oi?!

Eu já tinha lido que os chineses gostam muito de um jogo que lembra baralho e dominó (possui cartas como baralho, mas a dinâmica do jogo aparentemente é similar ao dominó, quem souber o nome compartilha aqui com a gente) e até vimos pessoas jogando nas ruas de Beijing, mas aqui essa cena era muito comum. Em todas as ruas tinha pelo menos um quarteto jogando… e para registrar esses momentos não era lá muito fácil, pois os chineses não gostam de ser fotografados e costumam reclamar – exatamente o oposto dos japoneses.

Ele, o passeio: Bamboo rafting e bike tour

E foi atrás dessa experiência que viemos parar aqui! Percorrer o Rio Li e seus adjacentes em um barquinho de bamboo para ver as mais belas paisagens da China. A geografia dessa região é muito interessante, parece que a natureza estava brincando de fazer ondas, como fazemos no papel, e foi sobrepondo camadas e mais camadas até se perder de vista. É lindo, incrível e único.

Saímos do nosso hotel às 10h, de bike, acompanhados da nossa guia chamada Sally. De cara pedalamos 2 horas, num trajeto em que cruzamos o centro da cidade, passamos pelo interior até chegar na margem do rio de onde saíam os passeios de barco. Foi muito legal! Cada cenário que vimos, cada situação, tudo tão impressionante. Passar pelo centro da cidade foi meio caótico, mas conforme fomos nos afastando nos deparamos com a realidade e o dia a dia dos habitantes da região, onde a agricultura de subsistência predomina.

Adoramos a flexibilidade do passeio de podermos parar a qualquer instante para tirar fotos, pois a Sally estava somente à nossa disposição e foi ainda melhor que pudemos fazer a tradicional sabatina de perguntas sem peso na consciência por monopolizar a guia. Uma das dúvidas que ela nos esclareceu é que os chineses não gostam muito de serem fotografados, principalmente em regiões do interior, pois eles se acham feios. Poxa, uma pequena informação que mudou completamente nossa percepção, achávamos que a postura arisca era um mix de mau humor e antipatia.

Após 2 horas pedalando, chegamos no local do passeio de barco. A Sally nos deixou devidamente acomodados em nossa embarcação e partiu de carro para a próxima parada, pois nos barcos de bamboos cabem apenas 2 pessoas além do remador. Foram 2h30 percorrendo o rio e falando “Uau!” a cada nova paisagem avistada.

Não sei se vocês notaram, mas o nome do passeio é “Bamboo Rafting” – isso, rafting tipo descer cachoeiras em botes – mas em menor proporção claro. Em diversos trechos tinham algumas quedas, mais para um degrau do que para uma queda. Gostosinho

E eu ainda fui presenteada com uma parada estratégica no meio do caminho em um floating bar (bar flutuante) onde pude apreciar um delicioso milho cozido acompanhado da tradicional cerveja chinesa Tsingtao. Adoro essas surpresas.

Quando chegamos ao ponto final lá estava a Sally nos aguardando com as nossas bikes. Andamos mais meia hora até chegarmos no restaurante para almoçarmos. O restaurante ficava na base da Moon Hill, uma famosa montanha que tem uma forma inusitada e seria nosso próximo destino.

Ainda bem que além de almoçarmos bem, comemos um chocolate de sobremesa, pois foi daí que conseguimos tirar energia para subir 800 degraus até o topo da montanha. Gente, 800 degraus! No meio do mato, depois de ter andado 2 horas de bike. Lembra que somos sedentários? Mas como sempre, valeu muito a pena!! Vejam a vista do restaurante:

E essa era a vista de lá de cima!

Chegamos ao topo com as línguas de fora, ofegantes, pré infartando… e sabe o que encontramos lá, além da vista deslumbrante? 2 senhoras, bem senhoras mesmo tipo vó, vendendo bebidas e cartões postais. Nosso primeiro pensamento foi “Como elas vieram parar aqui?! Cade o elevador?!”. Incrivelmente, e eu não tenho outra palavra para usar, elas sobem e descem os 800 degraus todos os santos dias. Calma que não parou por aí, o mais legal de tudo era o bom humor delas! Elas brincavam com todos que chegavam (quase morrendo), tiravam onda e pela simpatia acabavam concretizando as vendas. Acabou que compramos água (mesmo já tendo) e os tais cartões postais. Fofas!

E como para descer todo santo ajuda, lá fomos nós saltitantes e com um bocadinho de piedade de quem estava no caminho inverso. Mas olha, os degraus eram altos, e por isso a descida judiou também dos músculos que não tinham sido afetados na subida.

No total levamos 1h30 entre subir, apreciar e descer e ao chegarmos na base lá estava novamente Sally nos aguardando toda prestativa. Subimos em nossas bikes e encaramos mais 1h30 de pedaladas – nesse ponto já não havia mais dignidade, todos os músculos sentiam-se violados!

No meio do caminho, no meio de uma ponte, no meio do rio… encontramos o pôr do sol! E aí minha gente no corpo brota morfina ou sei lá o que… e as dores simplesmente desaparecem…  e mais uma vez a sensação de que tudo valeu a pena.

Entramos novamente no meio da cidade para chegarmos mais rápido ao hotel e pegamos o horário do rush, com direito a batida de um carro em uma Scooter (motos elétricas muito comum na China). Quando desmontamos das bikes as pernas tremiam, assim como os braços… e o coração, de tanta alegria pelo dia maravilhoso.

Tomamos um banho demorado, jantamos por volta das 20h e voltamos para o quarto com alguns petiscos e 2 cervejas que seriam usadas as 24h para comemorarmos o dia 1 de Janeiro de 2014. Mas acabou que 1 das cervejas ficou abandonada pela metade na mesa e acordamos 1h da madrugada mau acomodados no sofá! Desejamos feliz ano novo um ao outro e nos esparramamos na cama… simplesmente felizes.

É, o nosso reveillon foi totalmente diferente do que tínhamos planejado, mas espero que vocês tenham sentido como valeu a pena (de novo essas 3 palavras mágicas!). A Muralha da China já tinha feito a China valer a pena, mas Yangshuo tornou a China essencial no nosso roteiro. Você não pode viajar o mundo sem passar por aqui.

Feliz 2014 para todos os bagageiros de plantão! Atrasado, mas de coração!

Informações úteis

Hotel River Li Retreat
http://www.li-river-retreat.com/

Passeio Bamboo Rafting e Bike Tour
Agendamos no próprio hotel, mas tem diversas agências espalhadas pela cidade
Custo por pessoa: +/- U$50

Trajeto Guilin – Yangshuo – Guilin
Agendamos também no hotel e pagamos U$100 pela ida e volta para duas pessoas
DICA: Dependendo do país, evitamos pegar taxi direto no aeroporto, principalmente se é um trajeto mais longo. Tentamos sempre agendar direto com o hotel, sai um pouco mais caro mas  vale pela segurança.

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