3 dias no deserto australiano: um perrengue dos bons!

13 Comentários 07.abr, 2014, 16:22

* Fotos por Demetrios Kolovos

Quando contratamos o tour de 3 dias e 2 noites pelo deserto australiano sabíamos que seria uma aventura, só não imaginávamos a intensidade da aventura! Foram somente 3 dias que foram responsáveis por nos levar a profundas reflexões advindas de experiências bem diferentes do que estamos acostumados. Nada se compara. Subir um morro nas costas de um elefante e visitar a tribo das mulheres girafas na Tailândia, passear por uma vila flutuante isolada de outras cidades no Cambodia, fazer tatuagem em Bangkok, comer sem querer carne de cachorro no Vietnã, nada disso se compara ao que pudemos vivenciar com um grupo de 20 pessoas de todos os lugares do mundo.

A começar pelo nosso guia/motorista/cozinheiro (sim, ele acumulava essas 3 funções), o Stevo. Já se passaram meses que esse passeio aconteceu e nós continuamos lembrando dele, figura interessantíssima. No auge dos seus 24 anos ele conduziu todo o passeio com profissionalismo e seriedade, entendendo a responsabilidade que tinha perante o grupo. Grupo esse composto por nós 2, um casal de ingleses na faixa dos 50 anos, um pai e sua filha adolescente ambos italianos e outros 14 adolescentes com idade entre 19 e 24 anos da Alemanha, Holanda, Suíça, Suécia e Coréia do Sul. Resumindo: nós fazíamos parte dos tiozinhos da viagem!

IMG_1290Tchurminha boa!

O deserto australiano não é o roteiro mais comum para estrangeiros, pois as passagens para lá são muito caras (aproximadamente US$300 o trecho por pessoa). Dá pra chegar de ônibus em uma viagem de 8 horas que deve ser bem cansativa, mas barata e isso justifica a presença de muitos jovens mochileiros que não se incomodam com esse tipo de perrengue.

Desde quando começamos a planejar a viagem pra Austrália, ir para Alice Springs era uma certeza, principalmente para ver o Uluru e fazer as famosas trilhas da região. Minha principal influência foi uma amiga que viajou pra lá e compartilhou fotos lindíssimas. Era indiscutível, íamos de qualquer maneira.

Fizemos algumas pesquisas para fechar o passeio e descobrimos que em geral todas as empresas operam da mesma maneira, fazem os mesmo passeios e a oscilação de custo é quase indiferente. Tem uma específica que é a mais barata de todas, chama-se Emu Run Tours, que evitamos pois pelas pesquisas parecia ser mais focadas em jovens e dava a entender que tinham alguns trabalhos que ficariam por responsabilidade dos viajantes. Mau sabíamos!

O nosso tour nos levou a 3 pontos principais: Uluru, Kata Tjuta e Kings Cânions.

mapa

Primeiro dia: Uluru

A aventura começou as 6h da manhã, quando o Stevo nos pegou no hotel a bordo de uma van que já estava cheia de gente (fomos os últimos a ser pegos). A van puxava uma carreta/bagageiro e nela íam as malas e todos os utensílios que seriam usados nos próximos dias. A primeira impressão foi ótima, ela estava limpa, Stevo estava limpo, todos estavam limpos! Saibam que essa situação mudou completamente em 24 horas.

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Iniciando a viagem naquele momento, foram quase 7h de estrada para chegarmos em Ayers Rock, claro, com algumas paradas. A primeira foi em uma fazenda onde pudemos tomar um café preto e quem quisesse podia fazer passeio de camelo. Pulamos, pois íamos andar de camelo impreterivelmente em Marrocos e a volta era cobrada. Fizemos mais duas paradas para ir ao banheiro e esticar as pernas, sendo que em uma delas compramos um vinho, sugerido pelo próprio guia, para acompanhar o jantar da primeira noite.

HDR IMG_0500 Estrada UluruUma das incríveis paisagens do deserto australiano.

Logo nas primeiras horas de viagem o Stevo fez uma brincadeira quebra gelo, eu diria que necessária, para que todos se apresentassem e pudéssemos ver com quem iríamos conviver nos próximos dias. Cada dupla escreveu com uma caneta os nomes e país de origem no vidro da van. Achei ótimo, pois sempre que esquecíamos o nome de alguém era só consultar no vidro. E depois as duplas se apresentaram na frente da van, contando um pouco da suas histórias. Eu achei esse lance de escrever o nome no vidro tão criativo! Mas em questão de minutos começamos a cruzar outras vans fazendo a mesma viagem e absolutamente todas estavam com nomes no vidro! Alguém inventou, todos copiaram.

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No meio do caminho Stevo parou a van bruscamente, tinha avistado um Dingo perambulando pela estrada. Uau! Foi o primeiro bicho que vimos em seu habitat. Para quem não sabe Dingo é uma espécie de cachorro selvagem, que mais parece um vira lata! Mas tem um detalhe importante, ele não late, ele uiva… sacou?! É um animal considerado selvagem e perigoso, que anda em bando e é capaz atacar (e até matar) uma pessoa. Tem uma história bem famosa de uma família que acampava aqui na região e teve o filho levado por um Dingo. A história repercurtiu tanto que virou filme estrelado pela Maryl Streep (que recebeu indicação ao Oscar pela atuação). A mãe acabou sendo acusada e presa, não acreditaram na história dela, mas anos mais tarde acharam vestígios da roupa do bebê e acabaram admitindo que sim, um Dingo pode ter pego o bebê. Enfim! Ele é fofo, mas tem placas espalhadas por toda a parte orientando as pessoas a não se aproximarem e nunca alimentarem.

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Foto retirada da internet.

E seguimos viagem. Por volta das 13h começamos a avistar o Uluru. Antes de irmos vê-lo de perto fizemos uma parada para o almoço e foi aí que a diversão começou! Stevo retirou do bagageiro os ingredientes do nosso almoço e colocou tudo sobre uma grande mesa de madeira: pão de forma, embutidos, pepino, tomate, cebola, maionese, alface. Colocou uma caixa no chão que continha pratos, copos e talheres e o convite foi feito: “Se virem!” sic.

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Graças a pró atividade de algumas das meninas mais novas tudo até que funcionou rápido. Elas imediatamente picaram o tomate e o pepino, colocaram os embutidos em pratos e montaram a mesa. Eu e o Demetrios passamos alguns minutos congelados, não por termos que montar nosso lanche, mas pela caixa, a caixa dos pratos e talheres que comentei. Dentro dela tinha além desses itens, algumas ferramentas e tudo estava extremamente empoeirado, não de pó de cidade claro, de terra mesmo!

O que a gente estava pensando?! Que ía ter luxo e glamour num acampamento no deserto?! Eu até cogitei passar uma água no prato antes, mas achei que ficaria meio ridícula, tinha que entrar no clima. Rimos da situação e mandamos ver o nosso lanche “a la puerá du desertô”. Um mutirão foi rapidamente organizado para lavar a louça e guardar tudo em seu devido lugar, inclusive os pratos e talheres voltaram a partilhar espaço com as ferramentas do guia. :)

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Bem alimentados, fomos enfim ver o Uluru. Primeiro de longe para tirar fotos e depois fizemos uma trilha de 1h30 andando ao redor da grande pedra. Olha que interessante, o Uluru é uma única pedra com 350m de altura e 9.4km de circunferência. O que vemos é apenas um pedaço dela, pois a maior parte está debaixo da terra. O guia nos disse que a parte subterrânea chega a 20km de distância, na Wikipedia consta 2,5km e nos sites oficiais não encontramos essa informação. Anyway, é impressionante! E a coloração do Uluru, assim como todo o deserto australiano, é justificada por um componente presente nas rochas que oxida com o contato com o ar, então podemos dizer que o Uluru é uma grande pedra enferrujada!

IMG_0537O Uluru.

A trilha de 1h30 foi na verdade uma caminhada bem tranquila com lindas paisagens. Stevo explicou que não era permitido tirar fotos durante a trilha, pois os aborígenes (nativos  australianos) consideram a região um lugar sagrado. Como estamos acostumados com “não pode tirar foto, porque se a pessoa quiser ver tem que vir pessoalmente”, não botamos fé na história dos aborígenes e sim tiramos fotos, assim como todos que passavam por ali.

IMG_0620A erosão no Uluru cria cenários interessantíssimos.

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IMG_0611Caminhada tranquila em torno do Uluru.

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Cabe aqui um parênteses sobre os aborígenes, os nativos australianos que tem uma história de massacre perverso muito similar aos índios brasileiros. Ficamos muito, mas muito impressionados com eles. Tinhamos visto um grupo no centro de Sydney tocando instrumentos e vendendo CDs, mas eles estavam meio caracterizados/fantasiados. Em Alice Springs tem uma grande comunidade de aborígenes e pudemos ver de perto e entender mais a situação em que vivem. Em linhas gerais o que vimos foi:

  • Eles não estão inseridos na sociedade e no mercado de trabalho. Ouvimos algumas justificativas que vão desde “falta incentivo do governo” até “eles não querem”.
  • Mas afinal, o que eles estão fazendo? Pelo que vimos, nada. No centro de Alice Springs tinha uma grande praça. Passamos por lá dois dias e nos dois dias a praça estava forrada de famílias de aborígenes sentadas, paradas.
  • Um fato curioso é o aspecto físico deles, ficamos bem impressionados. Se você digitar no Google Imagens posso garantir que as fotos que vão aparecer não condizem com a realidade. Infelizmente não temos nenhuma foto de perto, pois eles não gostam de ser fotografados. A aparência deles é bastante primitiva, achamos (nossa opinião) que não houve mistura com outras raças (como índios, negros e brancos no Brasil por exemplo) então todos são muito iguais. Aliás, muuuito iguais.
  • O que vimos foram pessoas perambulando pela cidade e nenhuma, absolutamente nenhuma trabalhando.
  • Existem diversas recomendações feitas pelas empresas de turismo e pelos hotéis de não andar a noite a pé em Alice Springs. Eles contaram que as vezes os jovens aborígenes bebem e se tornam agressivos. Jovem, bêbado e agressivo, normal em qualquer lugar do mundo.

Voltando ao Uluru: fizemos a trilha e adoramos! Quando chegamos ao fim Stevo estava nos esperando e dali nos levou diretamente  ao nosso acampamento para jantarmos e dormirmos. Aí vem uma parte muito interessante do passeio! O acampamento era assim: um grande espaço que tinha áreas em comum para todos que estavam acampando usarem com banheiros, chuveiros e lavanderia. Ao redor dessa área comum tinham quiosques com cozinhas, sendo que cada grupo de excursão ficava em um quiosque.

Chegamos lá e tivemos 1 hora livre antes do jantar. A maioria das pessoas foi aguardar o pôr do sol, mas nós fomos primeiro tomar banho para evitar muvuca e depois fomos ao pôr do sol. O banho foi totalmente ok, tudo estava limpo dentro do cabível à situação. Apesar da simplicidade, nessas horas você só se preocupa em ter um bom fluxo de água no chuveiro e um chão limpo.

Depois do banho saímos correndo para ver o pôr do sol e pegamos só o finalzinho. O dia estava completamente nublado e não botamos fé que iria dar para ver o sol se pondo. Ainda que o Stevo advertiu “Gente, as vezes está completamente nublado e de repente o céu se abre e sai um pôr do sol maravilhoso!”. Pois bem, Stevo estava certo e nós dois errados. Manés.

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E chegou a hora do jantar! Stevo além de ser bom motorista e guia, também é bom cozinheiro. Ele preparou um banquete contendo arroz, macarrão, frango ao molho agridoce e carne moída de canguru. E lá vamos nós comer em pratos e talheres cobertos de terra. Nós somos muito frescos! Ninguém estava nem aí, só a gente que passava a mão no prato pra ver a limpeza. Mas ó, fizemos cara feia no começo e comemos até não caber mais. Estava delicioso! O casal de ingleses (prevenidos) levaram 2 taças de plástico para tomarem o vinho, acabaram compartilhando conosco quando nos viram beber no bico. Comemos todos sentados na grande mesa de madeira e foi uma delícia, conversamos bastante com o casal de meia idade.

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File4415Tava bom demais!

Para lavar a louça novamente um mutirão. Acabamos nos envolvendo na secagem da louça e eu não posso deixar de contar. O pano de secar a louça estava muito mais sujo do que a louça antes de ser lavada! E a gente ría. Eu ainda me ofereci ao guia para lavar o pano e ele deu um riso meio debochado e disse “Não! Não precisa”. Então tá né?

Bom, devidamente alimentados agora só restava ele nos indicar onde e como iríamos dormir. Não estávamos vendo barracas nem nada. Stevo chamou todo mundo e disse “Prestem atenção porque não vou repetir!”. Pegou um rolo de lona, jogou no chão de terra e mostrou como abria e montava. Era um saco de dormir feito de lona, com um colchão ultra fino dentro + um travesseiro também ultra fino. Ok, todos entendemos como abrir e depois fechar, mas e aí?! Montamos onde? Dormiremos onde? Stevo explicou: “podem dormir onde quiserem… mas acho que essa noite vai garoar, então tentem achar alguma cobertura. Eu vou estar alí na frente. Boa noite.”

Eu queria tanto, mas tanto ter uma foto da minha cara e do Demetrios nesse momento! Tínhamos entendido que dormiríamos em barracas! Ao relento? Era demais pra gente. O que aconteceu foi que todo mundo se amontoou na área da cozinha, que era coberta, sendo até mesmo as mesas de madeiras usadas como chão.

File4400Nossas camas!
File4416Galera montando suas camas na cozinha.

Escovamos os dentes, montamos nossa err, hm, cama e deitamos. Demetrios ficou num canto da área cimentada, logo ao lado era terra e sim, tinha um formigueiro lá. Com muita dó tivemos que jogar um pouco de água, pois elas começaram a invadir nossos colchonetes. Eu fiquei entre ele e a mesa de madeira. Eu estava tão cansada que confesso que logo dormi, mas foi uma noite estranha, eu acordava a cada 1 hora. Todas as vezes que acordei encontrei Demetrios com os olhos estalados! Tadinho, ele não conseguiu relaxar.

Bom, numa das acordadas na madrugada me deu vontade de fazer xixi. Com uma lanterna bem das fuleiras conseguimos sentar e calçar os tênis. Estava garoando e tinha apenas uma luz de um poste bem perto de onde estávamos. O resto era breu! Nos levantamos e caminhamos até o meio da rua de terra e no primeiro passo que demos ouvimos um grito/gemido aterrorizante e Demetrios falou “Dingo!”. Não estou brincando, deu um medo absurdo! E o gemido veio exatamente da direção para onde estávamos indo. O medo fez a vontade de fazer xixi aumentar mais ainda e o jeito foi encarar a situação. Ligamos a lanterna do celular, mil vezes melhor e mais potente, e fomos um agarrado ao outro até o banheiro. O chão estava coberto de insetos – de besouro a baratas – fiz meu xixi rapidinho e voltamos voando para a “cama”.

Segundo dia – Kata Tjuta

Por volta das 4h30 da matina começamos a ouvir uma música… baixinha… que ía aumentando, uma melodia melancólica e agradável. Era o toque de despertar do Stevo. Depois de 10 minutos nesse transe com a música ele acendeu as luzes e chamou todo mundo para rapidamente tomarmos café e sairmos.

O café era o mesmo esquema do lanche do primeiro dia, tudo colocado na mesa, cada um se vira e depois limpa o que sujou. Partimos para ver o nascer do sol perto do Uluru. Infelizmente estava nublado e perdemos a parte mais legal que é ver o Uluru mudando de cor conforme o sol nasce. Mas foi bonito de qualquer maneira.

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De lá fomos fazer a primeira trilha do passeio em Kata Tjuta. Que lugar incrível! Kata Tjuta é um agrupamento de formações rochosas compostas por pedregulhos. Parece que a natureza estava brincando de massinha, aquela de criança sabe? E foi fazendo bolinhas e grudando uma na outra. Incrível demais! Vejam na foto abaixo.

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IMG_0951Kata Tjuta visto de longe.

Stevo fez metade da trilha conosco e a outra metade fizemos por conta. Foram 3h no total de caminhada. Perfeito! Nível médio de dificuldade, com uns trechos até perigosos. O cenário é composto por vários elementos que formam uma paisagem exclusiva, da pedras e terra avermelhada, as árvores que ora tem suas copas verdes e ora são simples galhos e troncos contorcidos e secos. É de uma beleza ímpar.

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HDR IMG_0907 Dema Kings Canyon

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De lá fomos em um outro ponto para ver o Uluru em outro ângulo. E mais fotos!

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Fomos em um outro camping almoçar, dessa vez teve hambúrguer. Stevo com a ajuda de um dos jovens fez os hambúrgueres numa churrasqueira e cada um montava seu lanche. Nesse lugar não tinha pia então a louça foi lavada em uma bacia… e foi justamente eu quem lavei. Aprendizado gente! Imagina a gente que tá acostumado a lavar tão bem a louça, ter que lavar um prato sujo na água que já está suja! E só tive autorização para trocar a água uma vez. Eles tem uma mentalidade forte de não desperdiçar água. Foi realmente uma experiência!

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A bacia branca era a pia de lavar louça!

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E rodamos mais umas 3h para chegar em outra região. Fomos todos desmaiados no ônibus, cansados com a trilha. Paramos um trecho para colher lenha para fogueira. Ajudamos Stevo, mas foi rápido, ele parou num canto que estava cheio de galhos, foi só o trabalho de jogar pra cima do bagageiro e ele amarrar. Demos a sorte do Stevo ter bom gosto musical, a trilha sonora da viagem foi sensacional.

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Ca-po-ta-dos!

E aí chegamos no segundo camping, onde passaríamos a segunda noite. Em barracas!! Nossa, nos sentimos num hotel 5 estrelas quando vimos que tinham barracas de lona com – pasmem – camas dentro! Foi uma alegria saber que dormiríamos melhor. Novamente chegamos e corremos tomar banho.

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Esse jantar foi inesquecível. Stevo acendeu uma fogueira com a lenha que coletamos e cozinhou tudo em panelas de ferro, direto na fogueira. Eu achei incrível demais, o cara tinha uma habilidade que só vendo. Para abrir as tampas das panelas, ele usava um gancho de ferro. Tinham 4 panelas cozinhando simultaneamente e ele ia abrindo, mexendo, mudando elas de lugar, uma super correria. Nessa hora tiramos o chapéu pro rapaz. Tão jovem e tão agilizado! Além de multi tarefas.

20140119_184716Stevo dando seu show, com platéia e tudo!

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E depois de muito suar em volta da fogueira, Stevo anunciou que estava pronto nosso jantar. A maioria das pessoas comeu na cozinha que era coberta e tinha mesa com cadeiras, nós preferimos sentar nas pedras ao redor da fogueira e comer na companhia do guia. Estava realmente uma delícia: arroz, frango agridoce, legumes cozido e batatas ao molho branco.

20140119_191951Como sempre, eu acabei primeiro!
20140119_190729Prato gourmet, não é não??

Depois do jantar ainda comemos marshmallows espetados em galhos. Que emoção, nunca na vida tinha comido marshmallow desse jeito tradicional. Adorei! As meninas mais novas que compraram e levaram, super fofas.

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Os australianos chamam a Austrália de Oz (ou “Terra de Oz), que vem da abreviação escrita “Aus”, mas pronunciada “Oz”. Fica aqui nossa homenagem desse lugar mágico e surreal, como no filme!

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Foi realmente trabalhoso preparar esse almoço, o Stevo sentado no chão, suado e exausto era totalmente diferente do cara que pegou a gente no hotel. Dirigir no deserto não é tão light como pode parecer. Apesar de ter muitas retas e quase nada de tráfego, eles tem que ter muita atenção para não atropelar animais, inclusive teve que parar a van várias vezes para esperar alguns passarem. Como sentamos todos os dias nas poltronas logo atrás dele, deu pra ver bem como ele sempre ficava atento. E começamos a pensar na vida que ele leva… o cúmulo da simplicidade. Ele passou todos os dias com a mesma roupa e pra ser sincera não vimos ele tomar banho, sequer lavar a mão. Tentem abstrair os nosso padrões culturais, começamos a perceber que a sujeira que vimos nas louças era na verdade terra.

IMG_1283Aqui um exemplo de um lagarto que tivemos que parar o carro para esperá-lo atravessar a estrada.

E fomos dormir. Tinha tudo pra ser uma noite perfeita se não fosse o danado do xixi. Novamente acordei precisando ir ao banheiro. Estava uma ventania sem precedentes e as lonas das barracas faziam muito barulho, eu fiquei assustada. Confesso que tive um mini pânico, que passou quando saímos fora da barraca e pude ver que não tinha nada. Maldito medo de tudo.

A ida ao banheiro poderia se transformar facilmente num roteiro de filme de terror. Aqui era muito menos iluminado que no outro camping. Na verdade não tinha iluminação alguma! E lá vai eu e Demetrios com a lanterna do telefone. E ventava! Quando estávamos quase chegando no banheiro avistamos um amiguinho no meio do caminho, um escorpião. Desviamos, claro! E ainda comentei: Meeeeu que sorte que vimos e desviamos! Ufa!! Gente que sorte! Maldita boca… quando eu entrei no banheiro, quase caí pra trás. Só no meu banheiro eram 3 escorpiões, além de 2 centopéias e centenas de outros insetos que eu desconheço a espécie. Um parênteses para falar sobre centopéia: quem é que foi que inventou em desenhos infantis que centopéia é uma coisa fofa? De onde tiraram isso? Gente, centopéia é um bicho difícil de lidar! Ela anda muito rápido com suas “milhares” de patas e ela não é bonita. Que me perdoe a natureza, mas não foi sua obra prima definitivamente. Tive que mudar de cabine duas vezes pra fugir da centopéia, que andava pra lá e pra cá freneticamente! Saí, Demetrios me esperava, e voltamos para a barraca, não antes de desviar do escorpião amigo claro. E dormimos novamente.

20140119_234601Fica paradinho enquanto eu faço xixi, por favor!

Terceiro dia: Kings Canyon

Acordamos ao som de “Is this love” do Bob Marley e seguimos a rotina de tomar café, lavar louça e pé na estrada. Novamente acordamos 4h30 da matina. No terceiro e último dia fomos fazer a trilha mais legal de todas, no Kings Canyons. Quem já assistiu “Priscila, a Rainha do Deserto” deve lembrar que foi filmado aqui. O filme conta a história de 3 Drag Queens que percorrem Sydney – Alice Springs de carro para fazer um show.

Foi a trilha mais legal de todas! Começava com uma subida do tipo mortal, que foi a parte mais difícil, mas fizemos no nosso ritmo e deu tudo certo. Quando chegamos no topo, com a vista dos canyons, fez valer a pena. Foram 3h30 de trekking, sendo que começamos as 6h30 da manhã e acabamos as 10h. Fizemos tão cedo porque quando está sol eles fecham o parque depois das 9h para entrada, pois se torna um risco para as pessoas. Demos tanta sorte que o sol rachou exatamente quando acabamos!

IMG_1004Subida “Explode coração”!
IMG_1013Paisagem recompensadora no topo.

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IMG_1037Stevo explicando que essa árvore se auto mutila galhos se necessário em situações de seca para sobreviver.
IMG_1043Grandiosidade da natureza, pequenice do homem!

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IMG_1066Demetrios tentando se camuflar sem sucesso.

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IMG_1208A vista era linda!
IMG_1225Onde está o Demetrios??

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De lá foram 6h de direção até chegamos de volta a Alice Springs, com uma parada para almoço e outras 2 para banheiro. Chegamos no hotel e corremos tomar um banho gostoso e cair na cama! Esse passeio gerou tantas reflexões. É diferente acampar quando você é jovem e adolescente e acampar entre os 30 e 40 anos. Eu já acampei muito na vida pelo litoral norte e interior de São Paulo e nessa época eu não tinha medo de nada, não me preocupava com nada. Agora a gente tem tantas encanações e ficamos menos tolerantes a desconfortos né? Então nós nos sentimos vencedores de termos saído ilesos e felizes dessa aventura!

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Ficamos mais 2 dias em Alice Springs, no hotel trabalhando em fotos e textos. Um dia fomos no mercado fazer compras e encontramos o Stevo, estava com um grupo de amigos tomando cerveja, todo limpo e arrumado, outra pessoa! E ficamos pensando na vida dele. Não que a gente queira uma vida igual, não é essa a questão, mas na simplicidade de como ele leva a vida. Sem brincadeira, a sujeira a qual fomos submetidos fez a gente repensar alguns aspectos da viagem. Entendam, é diferente você comer um lanche num prato sujo de terra e num prato sujo de poluição – é o que pensamos. Depois dessa viagem começamos a ter atitudes diferentes. Por exemplo, quando íamos usar o copo da cozinha de um hotel SEMPRE lavávamos, mesmo estando nitidamente limpo. Paramos de fazer isso. Ficar mais relaxados, mais tranquilos, menos neuróticos. Foi uma bela lição de vida para a nossa viagem. Não sei se vamos levar isso pra SP, talvez não, mas foi um aprendizado útil para a viagem. E o estilo de vida do Stevo, nunca vamos esquecer.

Fatos em fotos

IMG_1256A van ao final tão suja como nós!
IMG_1041Stevo e seu way of life. Inspirador!
IMG_0980A cor do deserto é linda! Laranja, intenso!
IMG_0661Moscas… tem muitas moscas no deserto, o tempo todo. Não reclamamos porque poderia ser pior. Poderiam ser pernilongos!
File4326Placa criativa: ” Sexo. Agora que temos sua atenção, sem camiseta você não será atendido”.
20140120_104953“Thorny Dragon” – um lagarto também chamado de “Lagarto demônio” por causa de sua aparência. Na verdade ele é um fofo!
HDR IMG_1269 Estrada Pulando“Mariana, você se arrependeu?” – “O que?? Eu faria de novo!! Uhuhu”

Informações úteis

Empresa do passeio: Wayoutback Australian Safari
http://www.wayoutback.com.au/
Link do passeio que contratamos
http://www.wayoutback.com.au/destinations/red-centre-tours/3-day-cockatoo-dreaming-red-centre-safari/

Hotel em Alice Springs
Quest Apartments Alice Springs

Sobre o Autor

 Mari Stori

Mari Stori

Mariana Stori é formada em Comunicação Social, área em que atuou durante mais de 12 anos. Atualmente está em um período sabático, junto de seu marido, realizando uma viagem de volta ao redor do mundo.

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13 Comentários

  1. Carla Lima 02. setembro, 2014, 20:54

    Que experiência maravilhosa! Me inspirou demais! Parabéns!

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  2. Cassinha 11. abril, 2014, 11:02

    Mariana que aventura linda. Adorei. Só não sei se conseguiria. Aproveitem. Deus abençoe vocês. Viagem linda que vcs estão fazendo. As fotos são maravilhosas. bj.

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  3. Tati Callado 10. abril, 2014, 23:26

    Amei, tenho certeza que a experiencia foi única. Acabei de voltar de viagem do Peru. Eu e o meu namorado fizemos uma trilha que se chama Salkantay, dura 5 dias. Deem uma olhada assim que possível, vcs amariam. Bjs boa viagem!

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  4. Camila Branas 10. abril, 2014, 21:10

    Maravilhoso, pena que não dá nem para imaginar a sensação deste passeio pelo deserto australiano… Belíssima paisagem! Bjs.

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  5. Joana Barros 10. abril, 2014, 18:21

    Meu Deus!!
    Acho que eu não daria conta, flor!! kkkkkkk

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    • Mari Stori AUTOR 11. abril, 2014, 7:15

      Jo, a gente só sabe do que é capaz quando se depara com a situação. Aguarde pelo post do Nepal, lá nós vivemos o perrengue dos perrengues! hehehe Bjs, saudades!!

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  6. Kota 09. abril, 2014, 23:04

    Pessoal, muito legal o Blog, troquei uns emails hoje com o Demetrios e me liguei que acompanho o blog e não me prontifiquei a deixar nenhum comentário, sendo assim:
    - Excelente em todos os aspectos: na narrativa, as fotos, os detalhes das informações,

    Parabéns e sucesso para vocês.
    Kota.

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  7. Lígia 08. abril, 2014, 14:47

    Sensacional!!! Eu ficaria em pânico com os insetos maaas…faz parte!

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